segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Carioca Ale 1.0

Depois de um recesso durante e após a Copa do Mundo (mais por desencontros do que qualquer outra coisa), conseguimos voltar a produzir cervejas. Depois de fazer diversos estilos tradicionais, como Pale Ale, Porter e por aí vai, decidimos partir para uma jornada rumo ao desconhecido. Fizemos nossa primeira cerveja sem se preocupar com estilo, que foi batizada de Carioca Ale. Por que este nome? Certo dia, conversando com o Eduardo sobre o feedback que deram para nossa IPA (que estava um pouco menos lupulada do que o estilo pede) e falei que pouco importava se ela era IPA, Pale Ale ou qualquer coisa, e que se não se encaixasse em nenhum estilo, poderíamos batizá-la de Carioca Ale e pronto. E depois veio a idéia de fazer justamente esta cerveja. Mas como ela seria?

Primeira certeza: precisava ser leve, afinal, o Rio é uma cidade muito quente e combina com cervejas de drikability. E o corpo? Bem, a idéia era ter um corpo médio e a cor clara, mas não tanto, pois aqui é o Rio de Janeiro e não a Suécia! Como usaria quase que só malte Pilsen, pensei em usar um dedinho de carafa, só para quebrar a cor. Mas como a idéia era fazer algo mais diferenciado, foi escolhido o mel. Após algum estudo no blog do Bode que tem um post muito bom sobre isso, decidimos utilizar o mel na fermentação, pois queríamos que suas características chegassem bem marcantes até o final, coisa que não acontece se o mel for utilizado na fervura, pois ele perder muito do seu aroma e sabor. E quanto à lupulagem? Bem, optamos por trabalhar perto dos 30 IBU, mas também dando um pouco de aroma e sabor de lúpulo bem leve. Segue a receita da primeira Carioca Ale (20 litros):

6kg malte pílsen
0,50kg malte carahell
25g Nugget 60'
20g Hallertau 20'
5g Saaz 5'
Fermento S-04
400g mel dilúido em água, aplicado no segundo dia de fermentação



Agora ela está em vias de ser trasfegada para a maturação, e a expectativa é grande. Apesar de achar que após provar o resultado da primeira tentativa, alguns ajustes terão de ser feitos, já esperamos uma boa surpresa. A grande questão é quem vai sobressair ou se vão se harmonizar lúpulos, malte e mel.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Igreja da Cerveja?

Como foi falado no post anterior, a visita do americano Randy Mosher animou os cervejeiros cariocas. E mais do que se sentir valorizado, é o momento de pensar um pouco nas palavras dele. Randy falava durante o encontro e cerca de 10 pessoas se expremiam para chegar perto e ouvir suas palavras. Mas ele não falava sobre design de rótulos, sua especialidade, ou sobre produção de cerveja caseira, tema sobre o qual ele escreveu diversos livros. Tudo que ele queria naquele momento, com brilho no olhar, era transmitir uma palavra de incentivo para que falássemos da boa cerveja, da importância dela para a nossa sociedade. E falava de forma apaixonada, contando suas experiências em Chigado, a cidade onde mora. Na formação de clubes, em eventos em que cada produtor artesanal convidava uma não-cervejeiro para participar.

Randy Mosher, mais do que qualquer coisa, deixou bem claro que nós podemos e devemos difundir esta cultura ao máximo de pessoas possíveis, sendo multiplicadores. todos nós podemos falar sobre os aromas, cores, sabores. Sobre os diferentes ingredientes e as diferenças qualidade. Fazendo uma analogia, seria algo como: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.32). E nós, cervejeiros, nos tornariámos os evangelizadores, propagando esta palavra de transformação, unindo diferentes áreas da sociedade e passando conhecimento. Parece um certo exagero esta comparação? Mas por quê não pensarmos assim?

A importância da bebida é multipla. Primeiro, a cerveja foi e é, durante milênios, a base da alimentação de diversos povos, tendo grande marca no Antigo Egito, nas Grandes Navegações e por aí vai. Estar ligado à esta tradição é algo que precisa ser valorizado. Consumida em quantidades moderadas, é um alimento muito rico benéfico para nossa saúde. Há, inclusive, cervejas com baixíssimo ou nenhum teor alcoólico desenvolvida para o consumo de atletas, pois é uma rica fonte de energia. E mais, de acordo com novas pesquisas, o índice glicêmico baixo e as propriedades fitoestrogênicas da cevada e lúpulo, base da produção cervejeira, promovem uma dieta equilibrada e previnem doenças cardiovasculares.

Outro elemento que traz força a esta idéia é o poder socializador que a bebida tem. Afinal, que graça tem tomar uma deliciosa Urquell sozinho? O universo cervejeiro é um mundo de constantes descobertas. Do iniciante ao mais calejado, todos estão sempre conhecendo algo novo, transmitindo alguma experiência diferente, novas harmonizações e estilos. Isto é a prova do valor que a bebida e a comida tem de agregar, ainda mais num período marcado pelo individualismo e por bens de consumo de massa. A interação social e a amizade são tão importantes que chegam a ser benéficos até para a saúde das pessoas, mais do que fazer bem para o humor.

A para completar a Tridade Cervejeira, a infinidade de estilos, adjuntos e possibilidades de fabricação fazem da mistura da água, malte e lúpulo algo tão grandioso e complexo que chega a ser uma experiência quase religiosa provar uma grande cerveja. Defifrar a riqueza de aromas e sabores é um prazer único, uma evolução constante e deliciosa em nossas vidas.

E por que privar as pessoas que estão a redor de nós destas verdades? Elas precisam ser libertas sim das amarras do marketing, do conceito que quanto mais leve e claro é melhor. Temos que nos sentir como no "Mito da Caverna", de Platão, onde todos vivem na escuridão com um pequeno faixo de luz vindo de trás e julgam as sombras produzidas por ele serem a realidade. E só quando se libertam conseguem perceber que as sombras eram geradas por seres como eles mesmo, e que existe uma natureza riquíssima que não imaginavam existir.

Chamemos como quisermos, mas o dever de levar o valor da qualidade para dentro da vida das pessoas que estão à nossa volta está nas nossas mãos. Quando o Randy Mosher falou com grande amor sobre isto, ele nada mais estava do que praticando a sua fé. A fé de que uma grande cerveja proporciona algo superior. Maior que alimentação, a socialização e a descoberta de sabores. Algo extremamente humano, mas com uma pitada de divino.

Amém!


E no próximo post falaremos um pouco da nossa produção da Carioca Ale, uma cerveja clara e lupulada, de baixa fermentação com adição de mel na fermentação. Aguardem.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O dia em que Randy Mosher provou nossa cerveja





Na segunda feira, dia 9 de agosto, aconteceu o encontro da Acerva Carioca com o Randy Mosher, no Bar Petit Paulette, na Tijuca. Este cervejeiro americano é um dos mais renomados, principalmente quando se fala de ousadia na produção. Ele é autor de diversos livros e ontem teve a maior honra de sua vida: provar uma cerveja feita pela Homini Lúpulo. (na foto, Bernardo e Randy, foto tirada por Tatiana Mello Gomes).


Brincadeiras a parte, entre as diversas cervejas caseiras ofertadas ele experimentou e gostou da nossa Índia Pale Ale. Perguntado se havia algum off-flavour, ele disse que a única crítica era que poderia ter carregado mais de lúpulo , principalmente para sabor e aroma. Ou seja, o processo foi perfeito, talvez tenhamos pecado ligeiramente na escolha da matéria prima, mas nada que comprometesse de fato. E isso já era algo percebido anteriormente, pois utilizamos alguns lúpulos mais velhos. Aliás, fica a dica para os iniciantes: evitem usar lúpulos antigos, pois eles perdem algumas propriedades além de gerar alguns odores não desejados na cerveja.


O evento contou com a presença de diversos membros da Acerva Carioca, muitos fizeram questão de levar algo de sua produção para o mestre Randy provar e dar sua avaliação.Destas, eu pude degustar diversos estilos de cervejas caseiras e como o próprio Randy Mosher falou: “hoje eu não provei uma cerveja que não estivesse muito boa”. Havia no barril uma saborosa Red Ale, assim como uma Ale do Ricardo Rosa muito perfumada e interessante. Outra que chamou atenção foi uma Tripel com gengibre e casca de laranja, com um aroma muito peculiar e muito refrescante. E fora isso, foram litros da já conhecida Botto Bier München Hell e ainda uma oatmeal stout da Tatiana para finalizar.



E para completar a orgia gastronômica, havia um queijo maturado por 5 anos delicioso, que era impossível parar de comer, oferecido pela frommagier Monica Pessoa. Fora uma novidade que ela levou: a paçoca de cacau. Fica a imaginação da harmonização dela com uma Porter com Café.


E por falar nisso, a visita foi oferecida por Marcelo Carneiro, da Cervejaria Colorado. Para quem não sabe, a Demoiselle é um primor justamente na combinação de cerveja estilo Porter com infusão de café a frio.


O ponto alto da noite foi a devoção quase religiosa do Randy Mosher pela cerveja caseira. Mas isto é assunto a ser mais aprofundado em um próximo post.



Até lá

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Resultado da Degustação de Cervejas de Trigo



Os melhores momentos da primeira parte da degustação já foram exibidos no post anterior, e agora vocês conferem os resultados. Os critérios foram (em parênteses a escala de pontuação máxima e mínima de cada categoria):

Aparencia (1 a 3)
Aroma (1a12)
Sabor (1 a 20)
Mouthfeel (1 a5)
Impressão Geral (1 a 10)


Os resultados finais:

1ª Baden Baden 37,7
Erdinger Urkweiss 36,6
Paulaner 36,0
Primátor 35,2
Franziskaner 35,1
Justus 33,5
Licher 33,2
Sepultura 32,8
Colorado 31,2
10ª Austria 29,4
11ª Bamberg 27,9
12ª Dado Bier 27,7
13ª Tucher 27,5


O resultado final supreendeu a muitos de nós, e algumas coisas ficaram patentes, como a qualidade das clássicas Erdinger, Paulaner e Franziskaner. Outra coisa que nos chamou muita atenção, foi a Tucher, cerveja alemã que fica em último lugar. Nada garante que não foi um problema exclusivo da garrafa, mas o resultado foi inesperado. A tão falada Bamberg também desagradou a todos, e também fica-se com esta mesma dúvida. Afinal, acondicionamento e outros fatores podem facilmente influenciar na qualidade, mas é interessante notar que foram tomadas 2 garrafas da Bamberg, que apresentaram as mesmas características. Com exceção da grande campeão, o desempenho das cervejarias nacionais, infelizmente, ficou muito baixo, ocupando a parte inferior da tabela quase inteira.

Para finalizar, parabéns para a Baden Baden, que ficou em primeiro lugar na média dos 4 participantes. E um brinde a todos!




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