segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Igreja da Cerveja?

Como foi falado no post anterior, a visita do americano Randy Mosher animou os cervejeiros cariocas. E mais do que se sentir valorizado, é o momento de pensar um pouco nas palavras dele. Randy falava durante o encontro e cerca de 10 pessoas se expremiam para chegar perto e ouvir suas palavras. Mas ele não falava sobre design de rótulos, sua especialidade, ou sobre produção de cerveja caseira, tema sobre o qual ele escreveu diversos livros. Tudo que ele queria naquele momento, com brilho no olhar, era transmitir uma palavra de incentivo para que falássemos da boa cerveja, da importância dela para a nossa sociedade. E falava de forma apaixonada, contando suas experiências em Chigado, a cidade onde mora. Na formação de clubes, em eventos em que cada produtor artesanal convidava uma não-cervejeiro para participar.

Randy Mosher, mais do que qualquer coisa, deixou bem claro que nós podemos e devemos difundir esta cultura ao máximo de pessoas possíveis, sendo multiplicadores. todos nós podemos falar sobre os aromas, cores, sabores. Sobre os diferentes ingredientes e as diferenças qualidade. Fazendo uma analogia, seria algo como: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.32). E nós, cervejeiros, nos tornariámos os evangelizadores, propagando esta palavra de transformação, unindo diferentes áreas da sociedade e passando conhecimento. Parece um certo exagero esta comparação? Mas por quê não pensarmos assim?

A importância da bebida é multipla. Primeiro, a cerveja foi e é, durante milênios, a base da alimentação de diversos povos, tendo grande marca no Antigo Egito, nas Grandes Navegações e por aí vai. Estar ligado à esta tradição é algo que precisa ser valorizado. Consumida em quantidades moderadas, é um alimento muito rico benéfico para nossa saúde. Há, inclusive, cervejas com baixíssimo ou nenhum teor alcoólico desenvolvida para o consumo de atletas, pois é uma rica fonte de energia. E mais, de acordo com novas pesquisas, o índice glicêmico baixo e as propriedades fitoestrogênicas da cevada e lúpulo, base da produção cervejeira, promovem uma dieta equilibrada e previnem doenças cardiovasculares.

Outro elemento que traz força a esta idéia é o poder socializador que a bebida tem. Afinal, que graça tem tomar uma deliciosa Urquell sozinho? O universo cervejeiro é um mundo de constantes descobertas. Do iniciante ao mais calejado, todos estão sempre conhecendo algo novo, transmitindo alguma experiência diferente, novas harmonizações e estilos. Isto é a prova do valor que a bebida e a comida tem de agregar, ainda mais num período marcado pelo individualismo e por bens de consumo de massa. A interação social e a amizade são tão importantes que chegam a ser benéficos até para a saúde das pessoas, mais do que fazer bem para o humor.

A para completar a Tridade Cervejeira, a infinidade de estilos, adjuntos e possibilidades de fabricação fazem da mistura da água, malte e lúpulo algo tão grandioso e complexo que chega a ser uma experiência quase religiosa provar uma grande cerveja. Defifrar a riqueza de aromas e sabores é um prazer único, uma evolução constante e deliciosa em nossas vidas.

E por que privar as pessoas que estão a redor de nós destas verdades? Elas precisam ser libertas sim das amarras do marketing, do conceito que quanto mais leve e claro é melhor. Temos que nos sentir como no "Mito da Caverna", de Platão, onde todos vivem na escuridão com um pequeno faixo de luz vindo de trás e julgam as sombras produzidas por ele serem a realidade. E só quando se libertam conseguem perceber que as sombras eram geradas por seres como eles mesmo, e que existe uma natureza riquíssima que não imaginavam existir.

Chamemos como quisermos, mas o dever de levar o valor da qualidade para dentro da vida das pessoas que estão à nossa volta está nas nossas mãos. Quando o Randy Mosher falou com grande amor sobre isto, ele nada mais estava do que praticando a sua fé. A fé de que uma grande cerveja proporciona algo superior. Maior que alimentação, a socialização e a descoberta de sabores. Algo extremamente humano, mas com uma pitada de divino.

Amém!


E no próximo post falaremos um pouco da nossa produção da Carioca Ale, uma cerveja clara e lupulada, de baixa fermentação com adição de mel na fermentação. Aguardem.

2 comentários:

  1. Há mesmo que se diifundir a cultura cervejeira no Brasil, um país que é apaixonado por "cerveja" merece ser apaixonado por boas cervejas, sejam claras ou escuras, doces ou defumadas, leves ou encorpadas...
    Para que isso ocorra temos que mostrar, primeiramente, que fazer cervejas de qualidade não é nenhum bicho de sete cabeças, e para isso está aqui este blog, mostrando como um grupo de quatro amigos, com muita disposição, tanto para fazer como para beber, consegue alcançar excelentes resultados, de forma bem artesanal, mas sempre buscando a qualidade que merece ter uma excelente cerveja.
    Vamos que vamos.
    Abraços
    Sardinha

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  2. Caraca achei q depois de estudar a caverna de platão nas minhas aulas de filosofia da faculdade nunca mais ia esbarrar com ela!!

    Para vc ver que o mundo (igreja?) da cerveja mais uma vez me surpreende rsrsrs!

    abçs

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